quinta-feira, 29 de março de 2007

O "caso Dreyfus" e a carta de Zola

Fato deu impulso ao processo de mobilização da opinião pública É natural, hoje em dia, assistirmos a mobilizações sociais pelas mais diversas causas. Em todo o planeta, e a todo o momento, grupos se organizam para evitar ou começar uma guerra, defender o ambiente, pedir mais segurança ou derrubar algum político corrupto. No entanto, poucos sabem que uma "cause célèbre", ocorrida na França do final do século 19, deu impulso e marcou, de maneira definitiva e emblemática, o processo de mobilização da opinião pública. O Caso Dreyfus Em 1894, em Paris, o serviço secreto francês descobriu, na lata de lixo do adido militar alemão, um manuscrito (bordereaux) onde constava uma lista de documentos com informações sigilosas que poderiam ser entregues ao governo da Alemanha em troca de compensações financeiras. O governo da França abriu uma investigação que chegou ao nome de Alfred Dreyfus, um discreto capitão de artilharia, francês da Alsácia, de origem judaica, que poderia ter acesso àquelas informações. A única prova contra ele se apoiava na semelhança caligráfica. Mesmo alegando inocência, Dreyfus foi detido e levado a um conselho de guerra. Em dezembro de 1894 foi condenado como traidor. No ano seguinte, foi degradado e condenado à prisão perpétua numa ilha da Guiana Francesa, então conhecida como "Inferno Verde". A reação Em 1896, um grupo de pessoas, unidas em torno da esposa de Dreyfus, manteve o caso vivo frente à opinião pública, defendendo a inocência do acusado e reclamando por um novo julgamento. O caso Dreyfuss dividiu a França, alinhando em posições pró e contra Dreyfus, as divisões políticas francesas e os grupos sociais. A direita, composta da nobreza, do clero, dos anti-semitas, e dos militares apoiavam o Estado maior do exército francês, e se opunham a qualquer revisão do processo. A esquerda, os liberais, os socialistas, os republicanos, os anti-clericais defendiam a revisão e denunciavam a injustiça da sentença. Ainda em 1896, um outro oficial do estado maior, o tenente-coronel George Picquart, assumiu a chefia do serviço secreto. Picquart, sem muito esforço, revendo as provas do caso, chegou à conclusão de que o verdadeiro traidor era o major Walsin Esterhazy e não Dreyfus, encontrando ainda indícios de que Esterhazy era um espião a serviço da Alemanha. No entanto, a cúpula do exército francês recusou-se a reabrir o processo. Para o Estado Maior, reconhecer publicamente o erro equivaleria a uma desmoralização do Exército, e, por conseqüência, um enfraquecimento da França. A discussão em torno do caso ganhou força com a descoberta de Picquart e espalhou-se por todo o país. Não se falava outra coisa na França daquela época. Além do povo, toda a "intelligentsia" francesa entrou na discussão. Os debates eram violentos, de um lado estavam os dreyfusards, que acreditavam na inocência de Dreyfus, e do outro os anti-dreyfusards, um grupo de monarquistas, clericais, nacionalistas e anti-semitas, ligados aos setores mais extremados do Exército francês. Por Francisco Ferraz (site: politicaparapoliticos)

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