quinta-feira, 29 de março de 2007

O "caso Dreyfus" e a carta de Zola (II)

Os primeiros defendiam os direitos individuais e não acreditavam numa sociedade na qual não houvesse o respeito pelo indivíduo. Já o segundo grupo, acreditava que o indivíduo deveria ser sacrificado em nome de algo maior, como uma instituição, país ou estado. A síntese dessa teoria estava nas palavras do monarquista Charles Maurras: L'individu ne doit pas primer l'État (O indivíduo não deve sobrepor-se ao Estado). Os direitos do homem No dia 4 de junho de 1898, um grupo de políticos e intelectuais franceses lançaram um manifesto em "apoio a qualquer pessoa cuja liberdade esteja ameaçada ou cujo direito tenha sido violado". Era o nascimento da Liga pela Defesa dos Direitos do Homem. A reação do grupo contrário, também composto por homens de letra e políticos, veio com a criação da Liga da Pátria Francesa, cujo slogan principal era "a violência a serviço da razão". Eu acuso O movimento a favor de Dreyfus ganhou um reforço de peso quando, na manhã do dia 13 de janeiro de 1898, a capa do jornal L'Aurore estampava um artigo assinado pelo maior escritor do momento na França, Émile Zola. O jornal vendeu na manhã seguinte 300 mil exemplares, um recorde de circulação européia. O artigo era uma carta aberta ao presidente da República e tinha como título Eu Acuso! (J'Accuse!). Ao final, após relatar a verdade dos fatos do processo Dreyfus, Zola, num gesto de inusitada coragem, acusa pessoalmente toda a cúpula do exército francês, atraindo contra si toda a ira da direita francesa. O texto do escritor responsabilizava o presidente Félix Faure e outras autoridades militares por não terem feito justiça com o capitão Dreyfus. Uma de suas frases passará à posteridade: "A verdade se pôs a andar e nada a deterá". Os franceses ficaram perplexos com a coragem de Zola, o criador do romance social, autor de um vasto painel literário sobre os despossuídos e um articulista rigoroso e apaixonado. A guerra de opiniões chegava ao seu auge. No dia seguinte da publicação do artigo de Zola, uma centena de intelectuais franceses assinaram, em apoio a Dreyfus, o Manifesto dos Intelectuais. Entre as assinaturas estavam as de Marcel Proust e Anatole France. A reabilitação de Dreyfus Depois de toda essa mobilização, Dreyfus foi trazido de volta à França para um novo julgamento. No dia 8 de agosto de 1899, foi condenado novamente, mas não havia mais clima político para enviá-lo de volta à Guiana Francesa. A pressão agora não era só interna e vinha de países vizinhos também. No mês seguinte, no dia 19 de setembro, o presidente da República se viu obrigado a indultá-lo. Dreyfus foi libertado, porém, não foi readmitido no exército francês. Em 1905, o Partido Radical vence as eleições e separa definitivamente o Estado da igreja Católica, que havia tido grande participação na campanha anti-semita dos anti-dreyfusards. Isso criou o clima para que Dreyfus fosse finalmente readmitido no Exército e promovido a major. Por Francisco Ferraz (site: politicaparapoliticos)

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